Wednesday, August 13, 2008

MAOMETTO II: “LAST AND LEAST” DO ROSSINI OPERA FESTIVAL

Marina Rebeka
Michele Pertusi

A terceira e ultima ópera do ROSSINI OPERA FESTIVAL 2008, é uma nova producção de «Maometto II», dramma per musica en 2 actos de Cesare Della Valle.
Tudo aquilo que «L'Equivoco Stravagante» tem de moderno, «Maometto II» tem de anticuado.
O encenador alemão Michael Hampe optou por uma reconstituição histórica poeirenta e ilustrativa, que se fosse a primeira ópera que alguém visse, decerto essa pessoa jamais quereria retornar a um Teatro para ver um espectáculo lírico.
Recordo uma frase de um professor que nos dizia que se um espectáculo fosse mau, mas que pelo menos a música fosse boa, sempre nos deixava a possibilidade de fechar os olhos e ouvir a música. Para desgraça do magnífico elenco que canta «Maometto II», este é um exemplo pertinente dessa teoria.
E ainda assim, a direcção de orquestra de Gustav Kuhn deixou muito que desejar.
A excelente orquestra Haydn de Bolzano e Trento, dirigida pela batuta do maestro Kuhn, não teve outro remédio senão interpretar a bela partitura de Rossini de forma ensurdecedora, de tal maneira que muitas vezes nos perguntávamos para quê cantavam os intérpretes em cena.
Mas de todas maneiras era sem dúvida mais interessante observar o que se passava no fosso de orquesta.
O elenco de cantores, todos de uma qualidade inaudita, fizeram tudo o que puderam, mas a verdade é que a antiguidade pirosa desta encenação nos deixa de tal maneira perplexos, que nos perguntávamos se aquilo que viamos era real, ou uma reproducção exacerbada do fiasco da primeira criação em 1820.
A cenografia de Alberto Andreis e os figurinos de Chiara Donato pareciam feitas para um parque de atracções, com materiais seguramente de grande qualidade mas cujos resultados nos davam a sensação de ver figurinos de plástico e tecidos de má qualidade (género disfarces de Carnaval da loja dos 300) e cenários de cartolina. Inclusivamente as luzes de Franco Marri, que não obstante nos proporcionaram alguns momentos interessantes visualmente, pecaram por alguns erros como a sombra da colina da 3ª cena que se projectava no céu!
O carácter ilustrativo kitsh e de falso histórico esteve presente desde o primeiro momento, e foi piorando a cada mudança de cena, mudanças que se faziam em silêncio ou melhor, ouvindo-se o barulho dos câmbios cénicos) com o pano de boca abrindo e fechando a cada vez.
Mas se a primeira cena nos parecia um quadro realista retratando um episódo histórico (género o tratado de Tordesilhas dos nossos livros escolares), o avançar da acção introduzia a cada momento um irrealismo realista de um tal kitsh estético e estático que deixava incrédulo a qualquer espectador.
Momentos ironicamente memoráveis são o início da 3ª cena, em que o coro feminino (não obstante excelente vocal e teatralmente) parecia jogar à “macaca”, correndo e imobilizando-se várias vezes; a entrada das tropas de Maometto, de um ridículo de tal maneira insuportável que nos perguntávamos como seria possível que depois de tal “fantochada” poderia entrar o protagonista (quase melhor seria que entrásse vestido de Miss Piggy); para culminar com a cena das odaliscas, 1ª cena do segundo acto, inaceitavelmente indescrítivel, de um kitsh de tal maneira indigno de ser apresentado em público, que a partir de aí a melhor opção é, por respeito aos cantores e a Rossini, fechar os olhos.
Mas se a Gustav Kuhn se poderia aconselhar um tratamento de valeriana (ou talvez um valium) e a Michael Hampe um convite para a reforma teatral, resta-nos felicitar o elenco humano de «Maometto II», começando pela figuração que assumiu com grande dignidade (a que era possível) as personagens de guerreiros muçulmanos; o Coro de Câmara de Praga; e sobretudo os protagonistas: o tenor italiano Francesco Meli como Paolo Erisso; a jovem e belissima soprano letona Marina Rebeka, estrela promissora deste elenco, como Anna; a grande mezzosoprano Daniela Barcelonna como Calbo e o extraordinário Maometto do baixo Michele Pertusi, formaram o quarteto que protagoniza de forma excepcional esta ópera Rossiniana, secundado de forma igualmente excelente pelos jovens tenores italianos Enrico Iviglia como Condulmiero e Cosimo Panozzo como Selimo.
Esperemos que tal assembleia de artistas se possa reunir novamente numa producção digna dos seus dotes vocais e teatrais, pois esta encenação é sem dúvida um testemunho das razões pelas quais nos livros de História da Ópera é pouco abundante a referência a encenadores de ópera.



ROSSINI OPERA FESTIVAL
Adriatic Arena – Teatro 2
Pesaro – Itália
12, 15, 18, 20 e 23 de Agosto de 2008, às 20h.

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