Wednesday, January 6, 2010

PURCELL TRIUNFANTE




O Teatro do Capitole de Toulouse começa o ano com uma maravilhosa apresentação de “King Arthur or The British Worthy” excelente «dramatick opera» como a catalogou o seu autor, Henry Purcell.
Infelizmente, ou felizmente, Frédéric Chambert apostou por uma versão de concerto. Felizmente, porque a música de Purcell é de tal maneira extraordinária, e foi tão maravilhosamente interpretada por Les Talens Lyriques de Christophe Rousset e pelos cantores, que para ver alguma interpretação “maladroite” de um encenador “quelconque”, mais valeu mesmo esta versão concerto.
Esta obra, com libreto de John Dryden, actualmente considerada como uma semi-ópera, é composta por Prólogo, cinco Actos e um Epílogo, nos quais a acção é contada por um actor-recitante (interpretado sem grande interesse por Olivier Simonnet, que instalou no seu discurso demasiadas pausas desnecessárias – aqui sim, foi bem patente a ausência de uma direcção de actores).
Os protagonistas da história (Rei Arthur, Merlin, Emmeline a bem amada do Rei, Oswald o chefe Saxão e inimigo jurado do rei, Osmond feiticeiro das forças inimigas, etc) não são cantores, destinados a serem interpretados por actores em momentos dançados e de pantomima, sendo os cantores personagens mais ou menos secundárias e corais, como Philidel, espírito do Ar e auxiliador de Arthur, Grimbald, espírito da Terra, colaborador de Osmond, Cupido, Vénus, Britannia, soldados, pastores, Sereias, Ninfas e outros génios e espíritos da Natureza.
Para representar estes seres da lenda arturiana o director musical Christophe Rousset rodeou-se de um elenco de especialistas de grande qualidade: As sopranos Judith van Wanroij e Céline Scheen mostraram-se mais que perfeitas na sua interpetação vocal, vibrando com a música desde o primeiro ao ultimo compasso.
Pascal Bertin, conhecido alto masculino francês cantou e encantou com a sua bela presença cénica e delicadeza vocal.
Emiliano González Toro, tenor que nos habituámos a ver nas producções do Teatro do Capitole, apesar de um físico que começa a parecer desavantajado, mostrou-se completamente à vontade neste repertório e é um valor seguro da lírica actual, que seguramente vai dar que falar (esperemos que não continue a engordar).
Dois tenores mais se juntam a esta palete de cantores, o genial e super expressivo tenor noruego Magnus Staveland, que cantará Ferrando de “Così fan tutte” em Paris e em Lisboa, dirigido por René Jacobs, Flavio de “Norma” em Granada e Aret de “Philemon e Baucis” no Teatro Real de Madrid (só para dizer algumas das representações mais acessíveis da temporada 2009-2010), e o francês David Lefort.
A completar este elenco de élite tivemos o jovem barítono Christophe Gay, que pecou por alguma falta de graves numa partitura que se mostrou não totalmente adequada ao seu registo, apesar da sua prestação elegante, e do extraordinário barítono-baixo Douglas Williams que interpretou de maneira exemplar o Génio do Frio, vocalmente perfeito, e que dirigido pela mão maestra de Christophe Rousset conseguiu impressionar-nos e talvez mesmo dar-nos alguns escalofrios! Um jovem cantor cuja promissora carreira é fundamental seguir.
O ensemble de Les Talens Lyriques estiveram de parabéns conseguindo altos momentos de grande intensidade dramática.
Um grande momento a não perder.

5 e 6 de Janeiro 2010 – Halle aux Grains de Toulouse (programação Teatro do Capitole “hors les murs”)
http://www.theatre-du-capitole.fr/?lang=fr

23 de Janeiro 2010 – Sala Pleyel de Paris
http://www.sallepleyel.fr/francais/accueil.aspx

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